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Erros e Falhas no Tratamento da Ansiedade

Erros e Falhas no Tratamento da Ansiedade

Esse artigo vai citar e procurar elevar o entendimento sobre as ocasiões onde os “transtornos de ansiedade” não melhoram assim como as principais falhas e erros nos tratamentos psicológicos, psicoterapêuticos ou farmacológicos.

O primeiro erro está no conceito da palavra ansiedade. Sua etimologia aponta que a ansiedade vem da ânsia, e não é de praxe sofrer simplesmente porque esta anseando algo. Mas, o anseio pode trazer um sofrimento psíquico ao indivíduo também, e isso vai depender do contexto em que se vive esse anseio.

Num dialogo comum, dizer: “eu sofro de ansiedade”, pode abranger muitos significados para quem ouve essa frase.

O primeiro que normalmente vem à cabeça das pessoas é que a ansiedade é um tipo de sofrimento por algo que está por vir. Pode ser por uma reunião, por uma prova, por uma viagem, por uma mudança de vida, para quando pensar nos filhos, por uma ida ao médico, para confrontar com algo/alguém ou qualquer outra coisa. O fato é que todos esses exemplos não são o problema de fato. Eles são apenas os sinalizadores de que um “sofrimento oculto” está habitando aquela pessoa.

Mas que sofrimento oculto seria esse?

Essa é uma das principais perguntas que um bom terapeuta, analista, psicólogo ou psiquiatra deveria fazer a si próprio para então dar o melhor direcionamento para seu paciente que sofre de ansiedade.

Um dos principais erros que transcorre numa terapia é a falta de curiosidade. Elemento primordial e que deve ser praticado genuinamente pelo profissional.

Estar curioso genuinamente com o sofrimento oculto do paciente é diferente de estar curioso e fazer perguntas para se chegar à um lugar pré-estabelecido e já conhecido pelos livros.

Uma pessoa que é questionada por uma curiosidade genuína pode se deparar mais facilmente com seu sofrimento oculto em seu inconsciente. Cair num abismo sobre si mesmo diante do lançar dessa curiosidade verdadeira do outro pode significar um remédio muito importante para uma mudança e consequente melhora na dita “ansiedade”, que no fundo é a indecisão e falta de responsabilidade consigo.

Do contrário, quando a curiosidade genuína do terapeuta está ausente na terapia, é provável que o tratamento seja direcionado para lugares não tão importantes e que não vão ajudar o paciente a encontrar seu sofrimento oculto.

Bem, como foi dito, a ansiedade pode ser compreendida como um sintoma da falta de responsabilidade e da decisão consigo próprio. 

E agora segue mais um erro em contextos terapêuticos quando se vai ajudar alguém com ansiedade: querer responsabilizar a pessoas de seus “supostos erros”.

Ora, se a pessoa está sofrendo porque não se responsabiliza por algo na sua vida, como outra pessoa pode atribuir uma responsabilidade à ela?

Atribuir uma responsabilidade para quem ainda não a conquistou é como querer dar um carro para alguém que não sabe dirigir. Essa estratégia terapêutica vimos em grandes modelos psicoterapêuticos, onde o profissional diz ao paciente o que ele deve fazer para lidar com seu sofrimento. Primeiro, que se o sofrimento for oculto, somente o paciente poderá descobri-lo, e se ele ainda não tem responsabilidade consigo em algum aspecto, somente ele também que poderá adquirir essa responsabilidade, sendo que ela não será incutida pelo terapeuta, mas sim descoberta pelo paciente através da terapia ou da análise.

Também sabemos que uma pessoa pode adquirir responsabilidades por seguir o aconselhamento de seu terapeuta. Isso é fato. Mas antes de seguir um aconselhamento, é necessário que ela tenha uma boa expectativa e um ótimo vínculo construído com seu terapeuta.

Outra falha considerável sobre o terapeuta querer ensinar responsabilidades para seu paciente, está no quanto aquele profissional é responsável consigo próprio para então transmitir essa responsabilidade para o outro. Em meias palavras, é impossível um fumante ensinar outra pessoa a parar de fumar. Jaques Lacan disse: “Você leva uma análise até onde levou a tua própria”. Ou seja, não poderá ajudar outra pessoa além do que você já se ajudou.

Enfim, a responsabilização consigo pode abranger muitas nuances, desde uma conscientização em conhecer as tiranias desnecessárias do superego (autocríticas), até o amadurecimento em adquirir saberes sobre quais momentos se está vivendo de forma infantilizada e repetindo os mesmos padrões da mesma forma de sempre.

Voltemos para a ansiedade então, que é a máscara de um sofrimento oculto. Essa máscara pode aparecer através de uma taquicardia, sudorese, dor de estômago, enjoo, respiração curta, sensação de pânico, dores, inquietação entre outras formas. O fato, é que esses sinais de uma neurose histérica não são o problema de fato, são os sintomas de algo que está guardado e que não foi exteriorizado e compartilhado pela pessoa que sofre. Sabemos que a ansiedade e os sintomas muitas vezes são palavras e discursos “entalados” e não falados.

Diante disso, descobrimos outro fator que pode dificultar a terapia: a falta de habilidade do profissional em provocar a exteriorização do seu paciente. É importante ressaltar que provocar a exteriorização do sofrimento oculto do indivíduo não é feito somente pela palavra, e sim pelo gesto, que compreende não só a palavra mas também pelo ato, o silêncio e o modo de se fazer, bem como no tempo em que lhe cabe aplicar.

A provocação pode ser utilizada em diversos contextos com a finalidade do paciente descobrir suas responsabilidades ou cair sobre seu sofrimento oculto inconsciente.

Por último, considerando que os sintomas da ansiedade são palavras não ditas, a manutenção constante de medicamentos ministrados com a ausência de uma terapia ou análise pode ser um bom contribuinte para a ansiedade ser apenas anestesiada e não tratada de fato.

Quando os ansiolíticos e medicamentos são aderidos em conjunto com a terapia, é comum que os sintomas diminuam e o indivíduo passe a viver mais confortavelmente com sua ansiedade. Do contrário, quando os medicamentos são prescritos e o tratamento é baseado somente neles, é provável que o sintomas fiquem mascarados e o sofrimento oculto e as responsabilidades pendentes permaneçam, fazendo com que o indivíduo continue com seu sofrimento, porém de forma anestesiada.

Este artigo procurou descrever alguns erros e situações falhas que podem transcorrer na clínica em um contexto terapêutico para o tratamento de um “quadro de ansiedade”. Obviamente que tentar conceituar um sofrimento psíquico com a palavra ansiedade é vago e esses erros clínicos não são os únicos, além de aparecerem em outros tratamentos laterais à dita “ansiedade”.

Dr. Renan Boucault

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